Deus. Um mistério? Um delírio? Ou uma realidade?

Quando você ouve a palavra “Deus”, o que vem a sua mente?

Certamente que cada pessoa terá a sua imagem, conceito ou ideia própria de como deve ser Deus. O Homem, através do tempo, tem buscado inúmeras teorias para definir o Ser Supremo (ver o quadro abaixo). Mas, por que é tão difícil ter uma noção mais precisa do que vem a ser o Criador?

Algumas concepções humanas sobre Deus:

A – O politeísmo

 

(do grego: Poli, muitos, Théos, deus: muitos deuses) consiste na crença em mais do que uma divindade de gênero masculino, feminino ou indefinido, sendo que cada uma é considerada uma entidade individual e independente com uma personalidade e vontade próprias, governando sobre diversas atividades, áreas, objetos, instituições, elementos naturais e mesmo relações humanas.

B – O monoteísmo

Moisés, que através de uma revelação espiritual, foi o primeiro homem a defender a crença em um Deus único. Isto causou uma verdadeira revolução no pensamento do povo hebreu e, a partir deste momento, o monoteísmo começa a crescer até se transformar na visão de Deus predominante no Ocidente.

C – A visão antropomórfica

Tanto politeístas quanto algumas correntes monoteístas enxergam Deus com a forma humana. Um exemplo clássico desse pensamento se expressa através do “nascimento de Adão”, afresco pintado no teto da Capela Sistina, no Vaticano, por Michelangelo e que ilustra o início desta matéria.

D – A visão do panteísmo

Ao nascer, a alma é extraída do todo universal e ganha individualidade, que mantém até o momento da morte quando retornará à massa comum, como as gotas de chuva ao oceano. Para o panteísmo, Deus seria a soma destas partes.

E – A visão do ateísmo

Se Deus existe, por que até agora ele não se apresenta para os homens? Se Ele é bom, por que tantas guerras, desigualdades e catástrofes naturais? Por que vejo tanta gente sofrer e morrer em nome de Deus? O Universo é consequência de uma sucessão de eventos que ocorreram por acaso. Estes são os principais argumentos do materialismo.

F – A visão espírita

Deus é a causa de todos os efeitos inteligentes que percebemos no Universo. É único, eterno, imutável, imaterial, onipotente, soberanamente justo e bom, infinitamente perfeito. É a suprema e soberana inteligência. O estudo de suas leis esclarece as aparentes contradições que observamos no mundo.

Saber, através de O Livro dos Espíritos, que Deus é a inteligência suprema e causa primária de tudo o que há no Universo, revolucionou o conceito que a humanidade tinha de Deus até então. Entretanto, isto não resolve totalmente a questão inicial porque os termos “inteligência suprema” e “causa primária”, por serem abstratos, ­continuam vagos na cabeça do homem que busca responder à pergunta inicial deste texto. Sobre este tema, Santo Agostinho expõe a sua maneira de entender Deus quando disse: “Se ninguém me pergunta que é Deus, eu sei; mas, se me pergunta eu já não sei.”

Por outro lado, no livro citado, aprendemos que essa dificuldade vem da nossa linguagem que ainda é insuficiente para definir coisas que estão acima da nossa inteligência. Santo Agostinho deixa isso muito claro porque intuitivamente ele sabe, mas, a partir do momento em que a intuição tenta se expressar através das palavras, ele já não sabe. Desta forma, percebemos que a chave para se compreender Deus está em nós. E O que está faltando para encontrarmos essa chave?

Veja também:

Chave para encontrar Deus

1. O Deus de Einstein

A dificuldade de entender Deus, a impossibilidade de percebê-lo através dos sentidos físicos somada às guerras e disputas pelo poder que já foram ­empreendidas em seu nome fizeram o ceticismo tomar conta do pensamento de muita gente. Apesar disso, encontramos nos grandes gênios da humanidade como o físico Albert Einstein, argumentos brilhantes que comprovam a existência do Criador.

No livro Einstein – sua Vida, seu Universo, (Ed. Companhia das Letras) escrito por Walter Isaacson, encontramos um capítulo intitulado “Deus de Einstein” que aborda conversas voltadas à sua concepção de religiosidade.

Einstein foi questionado inúmeras vezes sobre a crença na existência de Deus. E pouco depois de completar seus cinquenta anos, cedeu uma entrevista a um renomado poeta e propagandista, George Viereck, tecendo seu pensamento religioso, através das seguintes palavras:

“Não sou ateu. O problema aí envolvido é demasiado vasto para nossas mentes limitadas. Estamos na mesma situação de uma criancinha que entra numa biblioteca repleta de livros em muitas línguas. A criança sabe que alguém deve ter escrito esses livros. Ela não sabe de que maneira, nem compreende os idiomas em que foram escritos. A criança tem uma forte suspeita de que há uma ordem misteriosa na organização dos livros, mas não sabe qual é a ordem. É essa, parece-me, a atitude do ser humano, mesmo do mais inteligente, em relação a Deus. Vemos um Universo maravilhosamente organizado e que obedece a certas leis; mas compreendemos essas leis apenas muito vagamente.”

Em outros momentos, Einstein contesta a visão de um Deus que possua as limitações, características humanas personificadas. E se coloca humilde diante da superioridade daquilo que ainda não conseguimos compreender. Reitera “Não consigo conceber um Deus pessoal que tenha influência direta nas ações dos indivíduos ou que julgue as criaturas da sua própria criação.”

2. Autoconhecimento, uma chave possível!

Se os homens da Terra, na condição de espíritos imperfeitos, ainda não possuem um grau de evolução intelecto-moral suficientemente avançado para compreender Deus, nosso objetivo sofre uma mudança de foco e passa a ser a busca do meio mais prático para fugir do mal e alcançar o tal progresso intelectual e moral. E se esse meio produzir resultados ainda nesta vida, fica muito melhor.

Esse foi o pensamento de Kardec, na questão 919 de O Livro dos Espíritos e de acordo com a resposta obtida pelos espíritos, esse meio consiste no conhecimento de si mesmo; um conceito tão antigo quanto ignorado por boa parte da humanidade.

O homem quer a chave para entender Deus, mas se esquece de buscar o conhecimento de si mesmo.

Conquistar o autoconhecimento não é tarefa simples, porque implica num processo onde o sujeito primeiramente precisa conhecer as leis divinas e depois questionar se seus atos estão de acordo ou não com tais leis. Precisa fazer um inventário de si mesmo; saber quais são seus defeitos e qualidades; o que fazer para buscar tudo aquilo que eleva o ser humano e abandonar os comportamentos infelizes que o levarão invariavelmente ao sofrimento.

Não existe uma fórmula mágica para adquirir o conhecimento pleno de si mesmo. Entretanto, encontramos orientações valiosas de espíritos superiores para todos que quiserem mergulhar no processo de autodescoberta. “Quando estiverdes indeciso sobre o valor de uma vossas ações, perguntai a vós mesmos como a qualificaríeis se ela fosse praticada por uma outra pessoa”, afirma Santo Agostinho em resposta a questão 919a de O Livro dos Espíritos.

O homem que busca estudar e refletir sobre si mesmo acaba descobrindo que Deus habita na essência de todos nós. “Eu te procurava lá fora – e eis que tu estavas dentro de mim” é a conclusão de Santo Agostinho sobre o Ser supremo. “Eu e o Pai somos um” afirma Jesus dando testemunho de que a comunhão perfeita com o Criador está condicionada à prática da Lei Divina. A base desta Lei está impressa na consciência do Homem e o Evangelho trazido por Cristo tornou-se o melhor manual de sua aplicação para todos nós.

E como todo processo possui etapas, encontramos no pensamento de Joanna de Ângelis no livro Autodescobrimento – uma busca interior, mais uma contribuição para nosso objetivo, descrita abaixo:

Etapas para o autodescobrimento.
  • Insatisfação pelo que se é, ou se possui, ou como se encontra;
  • desejo sincero de mudança;
  • persistência no tentame;
  • disposição para aceitar-se e vencer-se;
  • capacidade para crescer emocionalmente;

3. Necessidade da ideia de Deus

“A questão de Deus é o mais grave de todos os problemas suspensos sobre nossas cabeças e cuja solução liga-se de uma maneira estreita, imperiosa ao problema do ser humano e de seu destino, ao problema da vida individual e da vida social”, esclarece Léon Denis em O Grande Enigma, obra indispensável para quem deseja se aprofundar na ideia de Deus e da criação divina.

Para Denis a ideia de Deus “se afirma e se impõe fora e acima de todas as crenças, filosofias” – incluindo a Espírita, por mais surpreendente ou paradoxal que isto possa parecer! Acredite, são apenas aparências; Tudo isso simplesmente pelo fato de que “Deus é maior do que todas as teorias e todos sistemas. Eis por que não poderia ser atingido nem diminuído pelos erros e as faltas que os homens cometeram em seu nome”, argumenta o autor provando que independente do tipo de concepção que adotemos, definir Deus é limitá-lo. E como definir algo que possui atributos como eternidade e imaterialidade, se todos nós temos dificuldades fundamentais para compreender estes conceitos isoladamente?

“Deus está acima de todas as denominações, e se o chamamos Deus, é por falta de um nome maior.” – Victor Hugo

Conclusão

O que podemos afirmar é que a busca por Deus produz grandes consequências para o progresso moral da humanidade. É algo essencial porque nos sustenta, nos inspira e nos dirige, mesmo à nossa revelia. Porque, como disse Jesus, ele é Pai; e na mais profunda acepção que esta palavra pode significar. Um pai ama seus filhos e educa-os com amor esperando que eles cresçam desenvolvendo a fraternidade e transformando o hoje para que o amanhã seja melhor.

Veja também:

Para saber mais:
O Livro dos Espíritos – Allan Kardec; parte 1, cap. 1 “Deus” e parte 3 cap. 12 “Perfeição moral”. Ed. Celd.
A Gênese – Allan Kardec; Cap. 2 Ed. Celd.
O Grande Enigma – Léon Denis; Cap. 5 “Necessidade da idéia de Deus”. Ed. Celd.
Lampadário Espírita – Joanna de Angelis; Cap 2 “Teofania” Ed. FEB.
Autodescobrimento: uma busca interior – Joanna de Angelis; Ed. Leal
Einstein – Sua Vida, Seu Universo, Ed. Companhia das Letras.

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