Conflitos pessoais na visão da psicologia Espírita

Nesse empreendimento de ascensão inevitável, o ser depara-se com as construções do seu passado nele insculpidas, que se exteriorizam amiúde, afligindo-o, limitando-o. Apresentam-se, essas fixações, como conflitos nas paisagens íntimas, ameaçando a sua realização, a alegria do trabalho, a harmonia da convivência com outras pessoas, transformando-se com facilidade em complexos perturbadores na área da emoção e do comportamento.

Não se podem negar os fatores responsáveis por tais distúrbios, a começar pelos comportamentos da gestante, afetando o ser na vida intrauterina e culminando com a convivência em família, particularmente com pais dominadores, mães castradoras, neuróticas, que transferem as suas inseguranças e todos os outros conflitos para os filhos em formação, e que se tornam fragilizados sob a alta carga de tensões que se veem obrigados a suportar. Por outro lado, as pressões sociais e econômicas, culturais e educacionais se transformam em gigantes apavorantes que passam a perseguir com insistência o educando, que absorve esses fantasmas e não os digere, vindo a temê-los, a detestá-los e a conduzi-los por toda a existência, quando não recebeu conveniente tratamento.

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É certo que o Espírito renasce onde se lhe torna melhor para o processo da evolução. Como, todavia, ninguém vem à Terra para sofrer, senão para reparar, adquirir novas experiências, desenvolver aptidões, crescer interiormente todos esses empecilhos que defronta fazem parte da sua proposta de educação, devendo equipar-se de valores e de discernimento para superá-los e, livre de toda constrição restritiva à sua liberdade, avançar com desembaraço na busca da sua afirmação plenificadora

Esta é, sobretudo, a função da Psicologia, ao penetrar o âmago do ser, para o desalgemar dos conflitos e heranças infelizes que lhe pesam na economia emocional.

Sigmund Freud, O insigne Pai da Psicanálise, afirmava com razão muito pessoal que, na raiz de todo conflito neurótico, sempre existe um problema da libido. Não se pode descartar essa manifestação recalcada da libido, nos diversos comportamentos perturbadores que afetam a criatura humana. Isso que, remanescente das suas experiências coevas, o ser renasce sob as injunções das condutas pelas quais transitou.

No complexo de Édipo, por exemplo, detectamos uma herança reencarnacionista, tendo em vista que a mãe e o filho apaixonados de hoje, foram marido e mulher de antes, em cujo relacionamento naufragaram desastradamente. No complexo de Eletra, deparamos uma vivência ancestral entre esposos ou amantes, e que as Soberanas Leis da Vida voltam a reunir em outra condição de afetividade, a fim de que sejam superados os vínculos anteriores de conduta sexual aflitiva.

Esses amantes reencontrando-se e guardando no inconsciente, isto é, no Espírito, as reminiscências das atividades vividas sob tormentos, sentem os apelos de ontem reaparecerem vibrantes, e, não possuindo uma forte conduta moral, derrapam nas relações incestuosas, portanto, infelizes.

Mesmo nos complexos de inferioridade como de superioridade, ressurge o passado espiritual dominador, provocando os estados mórbidos, que levam ao desequilíbrio, a um passo da alienação mental. Não deixamos de ter em vista os fatores familiares, educacionais, sociais, que pesam na manifestação dessas perturbações, constituindo-se estímulos ao seu surgimento, piorando as tendências inquietadoras, sulcando a psique de forma poderosa.

Nos quadros fóbicos, podemos encontrar Espíritos que conduzem, no íntimo, pavores que sobreviveram ao fenômeno biológico da reencarnação, cicatrizes do mundo espiritual inferior por onde transitaram, ou do despertamento na sepultura, em face das mortes aparentes, havendo desencarnado, em consequência, por falta de oxigênio, e que reexperimentam o tormento na claustrofobia. Outrossim, as recordações de cenas apavorantes de que participaram na multidão como vítimas ou desencadeadores, revivem-nas, inconscientemente, na agorafobia.

Nas psicoses depressivas de vária manifestação, convém lembrar a presença da consciência de culpa, que preexiste ao corpo, portanto, à formação psicológica atual, produzindo mecanismos de fuga à ação dinâmica, sob o império, não poucas vezes, de enzimas neuroniais responsáveis pelo desajuste, como de fatores causais próximos e mesmo de obsessões espirituais, que se fazem atuantes no comércio mental com as criaturas humanas.

Nesse capítulo, as dolorosas obsessões compulsivas têm suas raízes etiopatogênicas em graves condutas do Espírito nas existências pretéritas, assinaladas pelo descaso à dignidade humana, por desrespeito às leis constituídas…

Quando a educação tiver como objetivo a construção do homem integral, os fatores de perturbação cederão lugar a outros tipos de estímulos, que são os edificadores da esperança, mantenedores das aspirações elevadas, no esforço para a superação das heranças doentias que cada um traz em si mesmo.

Do livro Vida desafios e soluções por Joanna de Ângelis – Conflitos pessoais.
      

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