O Espírito de Verdade ou Espírito da Verdade?
“Homens, irmãos que nós amamos, estamos próximos de vós; amai-vos também uns aos outros e dizei, do fundo do vosso coração, fazendo as vontades do Pai que está no céu: ‘Senhor! Senhor!’ e podereis entrar no reino dos céus.” — O Espírito de Verdade
Primeira comunicação do Espírito Verdade
Em 25 de março de 1856, Allan Kardec obtém a primeira comunicação de um Espírito que mais tarde seria reconhecido como o grande diretor dos Espíritos responsáveis pela missão de trazer aos homens as mensagens contidas na Codificação Espírita. Esse Espírito se autonomeia como “A Verdade”. Allan Kardec pergunta se esse nome era uma alusão à verdade que ele próprio procurava. O Espírito responde que talvez fosse, ou, pelo menos, seria um guia que iria protegê-lo e guiá-lo (Obras Póstumas – Meu guia espiritual, 25 de março de 1856).
Muitos se questionam se o Espírito de Verdade seria uma individualidade ou uma comunidade de espíritos. Neste sentido, possuímos algumas comunicações que poderemos tomar como base para responder a essa questão:
Comunicações dos Espíritos sobre o Espírito de Verdade
O Espírito Jobard
“Vedes os Espíritos que estão aqui convosco? – R. Eu vejo sobretudo Lázaro e Erasto; depois, mais distante, o Espírito de Verdade, planando no Espaço; depois, uma multidão de Espíritos amigos que vos cercam, apressados e benevolentes” (Revista Espírita 1862 – março – Conversas de Além -Túmulo).
Uma multidão de Espíritos de todas as ordens, sob a direção do Espírito de Verdade, veio revelar as leis do mundo espiritual.
O Espírito Lacordaire
“Era preciso, aliás, completar o que não havia podido dizer então, porque não teria sido compreendido. Foi porque uma multidão de Espíritos de todas as ordens, sob a direção do Espírito de Verdade, veio em todas as partes do mundo e em todos os povos, revelar as leis do mundo espiritual, das quais Jesus havia adiado o ensinamento, e lançar, pelo Espiritismo, os fundamentos da nova ordem social.” (Revista Espírita 1868 – fevereiro – Os Messias do Espiritismo).
Não nos resta dúvidas:
As mensagens apontam para uma individualidade. Superada, no entanto, existe uma outra grande dúvida que paira na mente de vários espíritas. Nós, não podemos confundir o Espírito de Verdade com o próprio Consolador que Jesus nos prometeu. Assim escreve Allan Kardec em A Gênese, capítulo XVII, item 39:
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Consolador prometido
“Qual deve ser esse Enviado? Jesus dizendo: ‘Eu pedirei a meu Pai, e ele vos enviará outro Consolador’, indica claramente que esse Consolador não é ele mesmo, de outro modo teria dito: ‘Eu retornarei para completar o que vos ensinei’. Depois acrescentou: A fim de que fique eternamente convosco e ele estará em vós. Isto não se poderia entender de uma individualidade encarnada que não pode permanecer eterna-mente conosco, e ainda menos estar em nós; mas se compreende muito bem de uma doutrina, a qual, com efeito, quando assimilada, pode estar eternamente conosco. O Consolador é, pois, segundo o pensamento de Jesus, a personificação de uma doutrina soberanamente consoladora, cujo inspirador há de ser o Espírito de Verdade”.
Antes, neste mesmo livro, no capítulo I
Caracteres da Revelação Espírita
Kardec escreve: “(…) reconhece-se que o Espiritismo realiza todas as promessas do Cristo com respeito ao Consolador anunciado. Ora, como é o Espírito de Verdade quem preside ao grande movimento de regeneração, a promessa do seu advento se encontra realizada, porque, pelo fato, é ele o verdadeiro Consolador”.
O que mostra a clara distinção entre o Espírito de Verdade e o Consolador. Mas afinal, quem seria esse Espírito tão elevado e tão preocupado com a elevação moral dos homens?
Almejando a resposta à tal questão, averiguamos nos textos bíblicos e também nas mensagens dos Espíritos, tanto à época de Kardec como, também, em ensinamentos mais recentes. No Evangelho de João estão anotadas as seguintes palavras de Jesus:
“Eu sou o caminho, a verdade, e a vida, ninguém vem ao Pai senão por mim” (João 14:6).
“E conhecereis a verdade e a verdade vos libertará” (João 8:32).
Diz-nos então o Espírito Chateaubriand:
“Sois guiados pelo verdadeiro Gênio do Cristianismo, eu vos disse; é porque o próprio Cristo preside aos trabalhos de toda natureza que estão em vias de cumprimento para abrir a era de renovação e de aperfeiçoamento que vos predizem os vossos guias espirituais. (…)” (Revista Espírita, 1860 – fevereiro – O Tempo Presente).
Já o Espírito Erasto informa:
“Não poderíeis crer o quanto estou orgulhoso em distribuir, a todos e a cada um, os elogios e os encorajamentos que o Espírito de Verdade, nosso Mestre bem-amado, me ordenou conceder às vossas piedosas cortes (…)” (Revista Espírita, 1861 – outubro – Epístola de Erasto aos Espíritas Lionenses).
Em 1863, o Espírito São José afirma:
Pregai a boa doutrina, a doutrina de Jesus, a que o próprio Divino Mestre ensina em suas comunicações, que não fazem senão repetir e confirmar a doutrina dos Evangelhos. Aqueles que viverem verão coisas admiráveis, eu vo-lo digo” (Revista Espírita, 1863 – dezembro – O Espiritismo na Argélia).
Observem os adjetivos utilizados pelos Espíritos: “nosso Mestre bem-amado” e “Divino Mestre”. A quem podemos dar esses títulos? Só existe um único Ser a quem podemos considerar, que não é outro senão o próprio Jesus. Na obra de André Luiz, no livro Missionários da Luz, o instrutor Alexandre diz a André:
“– Mediunidade – prosseguiu ele, arrebatando-nos os corações –”
constitui meio de comunicação; e o próprio Jesus nos afirma: ‘eu sou a porta… se alguém entrar por mim será salvo e entrará, sairá e achará pastagens!’ Por que audácia incompreensível imaginais a realização sublime sem vos afeiçoardes ao Espírito de Verdade, que é o próprio Senhor?”
Somado a essas informações, em O Livro dos Médiuns, capítulo XXXI, mensagem IX, encontramos uma mensagem elevadíssima que destacamos apenas um trecho:
“Venho, eu, teu Salvador e teu juiz; venho como outrora, entre os filhos extraviados de Israel; venho trazer a verdade e dissipar as trevas”.
Kardec abstém-se em colocar a assinatura da mensagem, julgando assim, agir com circunspecção. Todavia, em nota, Kardec, após várias considerações, afirma que a mensagem é ditada por Jesus Cristo. Interessante notar que a mesma mensagem está em O Evangelho Segundo o Espiritismo, capítulo VI, item 5, assinada pelo Espírito de Verdade. Também em O Livro dos Médiuns, capítulo XXXI, nas mensagens apócrifas, Kardec coloca duas comunicações de Jesus, as quais, em nota, nos traz o seguinte:
“Não há, sem dúvida, nada de mau nessas duas comunicações; mas o Cristo jamais teve essa linguagem pretensiosa, enfática e empolada. Que sejam comparadas com aquela que citamos anteriormente que leva o mesmo nome, e se verá de que lado está a marca da autenticidade”.
Para nós fica claro que quando Kardec pede para compararmos as mensagens nas quais veremos “a marca da autenticidade”, é porque ele admite a primeira como autêntica.
Conclusão final
Nossa conclusão final é que o Espírito de Verdade é realmente Jesus. Tudo baseado em O Evangelho, nas informações dos Espíritos e em Kardec. Assim, durante todo o processo de construção e disseminação da nova Doutrina, esse Espírito auxilia o codificador, corrigindo seus escritos, aconselhando-o e sustentando-o contra as pedras pontiagudas e as serpentes encontradas no seu caminho. Em suma, afirmamos que para uma doutrina que estava iniciando sua caminhada pela Terra, era preciso unidade para tornar-se forte e segura. Essa unidade estava em Allan Kardec. Ademais, devemos reforçar os textos doutrinários quando nos dizem que o Espiritismo não é obra de uma única pessoa ou único Espírito. Todavia, enquanto a organização material estava concentrada em Allan Kardec, a organização espiritual estava concentrada neste Espírito Amigo e de Luz – Jesus, que por todas as razões se identificou como A Verdade.
“Se tenho razão, os outros acabarão por pensar como eu; se estou errado, acabarei por pensar como os outros.”
(Kardec, em Obras Póstumas, Constituição do Espiritismo – Exposição de Motivos, II – Dos Cismas.)
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