Reencarnação e verdadeira propriedade

Sabendo que o objetivo da encarnação é o progresso do Espírito e que isto não se opera em uma só encarnação, pois a conquista dos valores espirituais, em gérmen na criatura, se faz por sua própria decisão e vontade no afloramento das faculdades da alma, pensamos em como podemos, através do processo reencarnatório, compreender o que seja a Verdadeira Propriedade do Espírito.

“Devemos ver na pluralidade das vidas da alma a condição necessária de sua educação e de seus progressos. É à custa de seus próprios esforços, de suas lutas, de seus sofrimentos, que ela se redime de seu estado de ignorância e inferioridade e se eleva de degrau em degrau e, na Terra primeiramente, depois, através das inumeráveis instâncias do céu estrelado.”  (Léon Denis)


De fato, todos os valores que o ser desenvolveu nas lutas encarnatórias como aquisição moral lhe pertencem. (1)

(1) “Verdadeiramente o homem só possui como sua própria propriedade o que pode levar deste mundo, O que encontra ao chegar e o que deixa ao partir, ele desfruta durante a sua permanência na Terra, mas, visto que é forçado a abandonar tudo isto, ele tem apenas em seu usufruto, e não a posse real. Então, o que é que ele possui? Nada do que é para uso do corpo e tudo o que é para uso da alma: a inteligência, os conhecimento, as qualidades morais.”
(Kardec, Allan. O Evangelho Segundo o Espiritismo, capítulo XVI, item 9, A verdadeira propriedade.)


Mas podemos aprofundar ainda um pouco mais esta reflexão, trazendo as ponderações do Espírito Públio, no livro Relembrando a Verdade, quando nos diz que tudo o que sai de nós e atinge ao outro nos pertence. É de ­nossa responsabilidade, assim como a expressão e o sentimento do outro, seja de alegria ou de tristeza, em resposta à nossa ação.

O esforço, inútil ou não, que fazemos, nos pertence. Assim, podemos entender como nossa propriedade tudo o que nos é peculiar, que traz a marca de nossa essência.

Logo, a verdadeira propriedade está em constante processo de ampliação e crescimento, através das inúmeras oportunidades encarnatórias.

Verdadeira propriedade da reencarnação

Mesmo sendo imprescindível para o progresso do espírito o mergulho na vida material, só levamos ­desta vida o que diz respeito aos valores do espírito. As ocorrências, as posses, as relações humanas são ferramentas e oportunidades para compreendermos que a verdadeira propriedade é “aquilo que você dá de si próprio em tudo o que se faz”.

Percebemos que a nossa propriedade está sob as hostes do processo dinâmico da lei de evolução: o que amealhamos pode acelerar nossa caminhada ou retardá-la, mas estará sempre num contínuo movimento de crescimento, potencializando virtudes, buscando a perfeição.

A verdadeira e justa propriedade será aquela que ­conquistaremos quando estivermos em sintonia profunda com a Lei de Amor.

Veja também:

Para espíritos imperfeitos como nós, esta trajetória só se cumpre através das vidas sucessivas.

O campo vibratório que exalamos é a nossa carta de identidade, e ele atua não só sobre nós, mas sobre a ambiência em que estamos e também sobre os outros.

A consequência desta reação recai sobre nós, nos pertencendo como responsáveis que somos sobre a impregnação negativa ou salutar no campo vibratório dos outros.

Estes campos eletromagnéticos próprios das criaturas se interpenetram constituindo elos de amor ou desamor entre os seres.

Jungidos pela lei de atração, eles se buscam, influenciando vigorosamente a constituição dos quadros reencarnatórios na escolha da parentela corporal, dos núcleos de amizade, na vida de relação, a fim de transmutar elos de aversão em vínculos de fraternidade.

Buscam-se vibratoriamente estes espíritos para continuar a se apoiar em novas vidas na carne ou, plenos ainda de hesitação e mesmo com certa repulsa, aceitar reencarnar no lar daqueles que os ofenderam.

A literatura espírita está rica de narrativas que ilustram os dramas destes espíritos que, ao reencarnarem, volvem ao convívio de quem os feriu, visando à transformação de ambos.

Nos livros de André Luiz, especialmente em Missionários da Luz e Entre a Terra e o Céu encontramos esta luta, como também no Evangelho Segundo o Espiritismo. (2)

(2) “Então, mediante o imenso esforço tais espíritos conseguem observar aqueles que odiaram na Terra, mas, diante desta visão, a sua animosidade desperta, revoltam-se com a ideia de perdoá-los, ainda mais de renunciarem a si mesmos e principalmente, com a de amarem aqueles que foram talvez os causadores da destruição de sua fortuna, sua honra, sua família. Entretanto, o coração destes infortunados ficam abalados, eles hesitam, vacilam, agitados por sentimentos contraditórios. Se a boa resolução predomina dentro deles, oram a Deus, imploram aos bons espíritos que lhes deem força no momento decisivo da prova.
(Kardec, Allan, O Evangelho Segundo o Espiritismo, capítulo XIV, item 9, A ingratidão dos filhos e os laços de família.)


Após a decisão tomada na espiritualidade, sob os auspícios dos Benfeitores Espirituais, o reencarnante aproximando-se com sua estrutura perispiritual da futura mãe, impregna o campo vibratório dela com as suas necessidades espirituais, inicialmente incidindo sobre a ­mente e o coração para depois então encharcar as camadas do perispírito e o corpo físico da futura genitora na área genésica, que passa a guardar a genética vibratória daquele que receberá como filho, mas que sendo antes de tudo filho de Deus, responde ao chamado do progresso, ­fazendo com que as características espirituais trazidas em seu ser tenham força para marcar os genes paternos e maternos no momento da fecundação, garantindo um corpo físico com as condições necessárias à sua evolução. Doenças expiatórias, provacionais, limitações, debilidades vêm como consequência da Lei de Ação e Reação promovendo a evolução do ser.

 


Observamos, deste modo, a importância de nossas ações, como são computadas pela Lei de Deus, e seus efeitos sobre nossos irmãos, sobre a Natureza, sobre nós mesmos, atuando sobre as decisões do mapeamento reencarnatório, mostrando-nos que homem algum caminha isolado, pois a Lei de Sociedade garante que cada um terá um papel determinante no tecido social (por mais discreto e anônimo que seja) contribuindo, assim, para o progresso da humanidade.

Nas palavras de Léon Denis: (3)

(3) “Pouco a pouco a alma se eleva e, conforme vai subindo, nela se vai acumulando uma soma sempre crescente de saber e virtude; sente-se mais estreitamente ligada a seus semelhantes; comunica-se mais intimamente com o meio social e planetário. Elevando-se cada vez mais por laços pujantes às sociedades do espaço e depois ao Ser Universal.
(Denis, Léon. O Problema do Ser, do Destino e da Dor, Primeira Parte, no item 9, Evolução e finalidade da alma.)


É preciso compreender a necessidade das provas e expiações sem enrijecer o espírito; em vez disso devemos buscar dulcificá-lo pelo entendimento de que somos espíritos imortais e de que precisamos continuar no processo de aprimoramento do ser.

A certeza de que Deus está na condução amorosa e justa da dinâmica de sua Criação torna-se imperiosa nos momentos de provas superlativas, para que a força de suportá-las e para que a docilidade na aceitação consciente da dor possam ocorrer.

A beleza da reencarnação se mostra quando nos é dado acompanhar irmãos em testemunho de FÉ e PERSEVERANÇA, lutando por seu progresso espiritual, mas coerentes com a lei de conservação, batalhando igualmente pela recuperação de sua força física, visando a estender ao máximo o aproveitamento desta encarnação.

Vemos nestes casos o Criador enviar em seu nome seus prepostos para direcionar tal determinação, tenacidade e esforço na superação da dor física e moral, e ­sustentá-los na conquista de um Bem Maior: a quitação de suas consciências com a Lei de Justiça, Amor e Caridade.

O Pai toma de companheiros encarnados, ­afetos ao Cristo, e os convida a se tornarem Cirineus destes irmãos de caminhada, como aprendizes da fraternidade, abrindo-se-lhes oportunidades redentoras.

E neles ecoa, nas fibras sutis do coração, o pedido ao Pai de permitir que continuem a servir e a ­doar-se, ombreando com os companheiros em testemunho constante nas provas superlativas. São, por vezes, mães, esposas, filhos, que se tornam espontaneamente, por amor, baluartes deste ­processo de ­crescimento do ­espírito — processo através do qual todos progridem.

Qual a razão, no âmbito dos quadros reencarnatórios, destes testes de resistência moral e física? Acreditamos que seja torná-los mais fortes e destemidos, flexíveis às intempéries e dóceis à vontade do Pai.

Porém, para aceitar com a mente e o coração a existência destas fortes situações provacionais, precisamos ter o entendimento de que a dinâmica divina, que promove o progresso das almas, ­computa as aquisições morais através das experiências em múltiplas encarnações, mostrando ser impossível esperar de uma criatura a aquisição de graus elevados de moralidade numa só existência terrena. (4)

(4) “Poderia a alma, numa vida única, desenvolver o seu entendimento, esclarecer a razão, fortificar a consciência, assimilar todo o conhecimento da sabedoria, da santidade, do gênio? Tem que percorrer no tempo e no espaço um campo sem limite.”
(Denis, Léon. O Problema do Ser, do Destino e da Dor, Primeira Parte, no item 9, Evolução e finalidade da alma.)


Daí, torna-se necessário compreender que as vidas sucessivas se alinham de construção em construção, e o que não foi conquistado ­nesta encarnação, apresenta-se como semente promissora para florescer na seguinte.

O próprio desejo de progredir da alma em testemunho, lutando para poder aproveitar ainda as oportunidades desta encarnação, mesmo quando a saúde do corpo físico parece indicar a possibilidade de um desencarne prematuro aos nossos olhos, nos indica que o processo transformador tomou conta de seu Ser que, alerta e desperto, anseia por novas condições de convivência benévola com o próximo, promovendo, assim, o seu progresso.

Podemos considerar que o objetivo da ­encarnação então se cumpre: o de despertá-lo para a ­necessidade de progredir e de ser verdadeiramente feliz.

Talvez a oportunidade de implantar estas modificações não ocorra nesta vida, mas, pela determinação do espírito, por sua convicção consciencial assumida, ele atrai para si, em novas possibilidades reencarnatórias, o campo de experiências pelo qual anseia e que hoje, lúcido, antevê.

Necessário se torna assim, não só o discernimento moral, mas a confiança em Deus e a Fé no futuro para a conquista da esperada felicidade, que, se não ocorre na sua relatividade, agora está garantida para todos nós, espíritos perfectíveis, num futuro de Luz que nos aguarda.

Depende de nós a urgência de alcançá-lo. 

Texto de Iole de Freitas, retirado da Revista de Estudos Espíritas do CELD (Centro Espírita Léon Denis) Edição de Fevereiro 2011.

Para saber mais.

  • Denis, Léon. O Problema do Ser do Destino e da Dor. 18. Ed. Rio de Janeiro: FEB, 1919.
  • Di Bernardi, Ricardo. Gestação, Sublime Intercâmbio,1. Ed. São Paulo, Intelítera Editora, 2010.
  • Kardec, Allan. O Evangelho Segundo o Espiritismo. 1. Edição de Bolso, Rio de Janeiro: CELD, 2001.
  • _____________ O Livro dos Espíritos. 1. Ed. Rio de Janeiro: 2007.
  • Ruiz, André Luiz. Relembrando a Verdade, pelo Espírito Públio. 2. Ed. Araras, São Paulo: IDE, 2005.

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