Refletindo sobre a Morte

No livro Obreiros da Vida Eterna, nos deparamos com um belo exemplo de como encarar a morte de forma natural e tranquila. Estamos falando do casal Mercedes e Fábio. Este último, com tuberculose em estado avançado, e durante colóquio com seus filhos menores, passava instruções de como deveriam se portar após a sua partida. De forma carinhosa, informa a seus filhos que irá “para um mundo melhor que este (…) onde seu pai possa ajudá-los num corpo são, embora diferente”. Em outro trecho da conversa, ele reforça com seus pequenos a lei de Amor “… Viveremos sempre e amar-nos-emos uns aos outros, cada vez mais”… A questão 164 de O Livro dos Espíritos nos mostra qual a consequência de um comportamento tão lúcido como o deste espírito “… Aquele que está purificado, se reconhece quase que imediatamente, porque já se desligou da matéria durante a vida do corpo, enquanto que o homem carnal, aquele cuja consciência não está pura, conserva por muito tempo a impressão dessa matéria”.

Pensamos na morte em seu estado futuro, esquecendo-nos que a construímos no presente. Não estamos nos referindo à maneira pela qual se morre, mas ao estado espiritual em que se encontra o desencarnante.

A lucidez descrita na história de Fábio é uma reinvidicação de todos nós, mas há passos que precisam ser trilhados para se alcançar tal condição. Estados d’alma como o equilíbrio e o pensamento conectados com a espiritualidade superior, ações como a utilização das energias em prol dos serviços de assistência aos espíritos sofredores, o estudo sobre as questões da alma, o esforço para ser útil, a prática do culto no lar, a perseverança no bem, contribuem para este fim, dentre outras ações. Se pudesse, escreveria muitas e muitas outras, mas ficaremos com estas somente e as consequentes reflexões. Fazemos algumas delas? É possível resumir estes atributos?

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Fica muito evidente o quanto a Doutrina dos Espíritos contribui para o cumprimento desses pré-requisitos. Na questão 165 de O Livro dos Espíritos, Allan Kardec pergunta aos espíritos superiores qual a importância do Espiritismo, no processo de perturbação daquele que desencarna. Duas sentenças, na resposta de nossos amigos, nos chamam a atenção. A prática do bem e a consciência pura terão maior influência neste período, diremos assim, mais ou menos turbulento para o espírito. De certa forma, elas unificam os elementos necessários a um bom “estado futuro”. Reparem, meus irmãos, que esta é uma mudança de concepção em torno do tema morte. Vamos nos preocupar com a nossa reforma moral enquanto encarnados! O depois da morte será simplesmente consequência de nossa vivência como cristãos na Terra.

 

Quem, de nós, não deseja recepção semelhante?

Segundo ainda a história contada por André Luiz, Fábio tem como companhia, próximo ao momento do desenlace, o irmão Silveira. Quem seria este? O pai do querido futuro desencarnante. Quem, de nós, não deseja recepção semelhante? Mas construímos laços afetivos que justifiquem este apoio entre os que convivem conosco? Vamos à resposta da questão 160 de O Livro dos Espíritos: “… conforme a afeição que se dedicavam mutua­mente; frequentemente eles vêm recebê-lo, quando da sua entrada no mundo dos espíritos e o ajudam a se desligar das faixas da matéria”… Até mesmo a convivência em família, baseada na lei de amor, ajuda a construir a condição que tanto almejamos para o nosso desenlace. O Evangelho Segundo o Espiritismo, 3 capitulo XIV, item 8, ajuda-nos a reformar o conceito de família: “Os verdadeiros laços de família não são, por conseguinte os fixados pela consanguinidade, mas firmados pela simpatia e pela comunhão de pensamentos que unem os espíritos antes, durante e após sua encarnação.” Mesmo para aqueles que não têm nenhuma informação a respeito de familiares consanguíneos, podemos desenvolver grandes ligações afetivas.

Fábio, personagem central desse nosso momento, não so­mente se preparou para a partida, mas também preparou seus entes queridos para vê-lo partir, como dito no primeiro parágrafo. Segun­do os espíritos, na questão 936 de O Livro dos Espíritos, a não aceitação daqueles que ficam pode interferir no progresso do espírito após o desencarne. Eis o que os espíritos respondem: “O espírito é sensível à lembrança e às saudades daqueles que amou, porém, uma dor incessante e destemperada o afeta penosamente, porque ele vê, nessa dor excessiva, uma falta de fé no futuro e de confiança em Deus e, por conseguinte, um obstáculo ao progresso e talvez, ao reencontro”.

Ficaremos com estes dois trechos da nota de Kardec, da questão 941, para nossa reflexão: “O homem carnal, mais preso à vida corporal do que à vida espiritual, tem, na Terra, penas e gozos materiais; sua felicidade está na satisfação fugidia de todos os seus desejos (…). A morte o assusta, porque ele duvida do seu futuro e porque deixa na Terra todas as suas afeições e todas as suas esperanças.

O homem moral, que se elevou acima das necessidades factícias criadas pelas paixões, experimenta, desde este mundo, gozos desconhecidos pelo homem material. A moderação de seus desejos dá ao seu espírito a calma e a serenidade. Feliz pelo bem que faz, não há para ele decepções e as contrariedades deslizam sobre sua alma, nenhuma impressão dolorosa deixando nela”.

Aproveitemos este início de ano, para modificar nossas concepções de vida de espírito imortal, utilizar nosso livre-arbítrio de forma consciente e com isso acelerar nossa reforma íntima, nos conhecendo cada vez mais. Posse do necessário, consciência tranquila e fé no futuro, são atributos para nossa felicidade tanto material como moral e com isso, facilitaremos, e muito, nosso processo de desenlace. 

Texto de Leandro de Souza Cruz, retirado da Revista de Estudos Espíritas do CELD (Centro Espírita Léon Denis) Edição de Janeiro de 2012.

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