Jesus conseguiu dizer tudo?

Amigos queridos, pensemos juntos: quantos ensinamentos tiramos das histórias que Jesus contou para todos nós? Quanta verdade em tanta alegoria? Com um vasto número de existências, nunca fomos tão instruídos, tão informados e — por que não dizer? —, tão amados quanto fomos, nos exemplos trazidos pelo Mestre, há dois mil anos.

Numa sociedade punitiva, ardente em suas condenações à época, ele nos presenteou mostrando a partir de inúmeras situações um novo ponto de vista.

Em meio a tantos flagelos, desavenças, desuniões e — por que não dizer —, traições, ouvir falar de uma Lei que fosse justa, que estivesse presente em todas as circunstâncias, que regulasse, que satisfizesse, que orientasse, mas que também acolhesse, sobretudo, mesmo que essa Lei fosse de implacável atuação e ao mesmo tempo fosse de infinita misericórdia, era sem dúvida alguma um bálsamo suave em corações endurecidos. Tudo isso faz com que vibremos nossa alma e nos regozijemos por estarmos vivos, com a certeza da existência de Deus, e de sua atuação em nossas vidas.

Apesar de todo esse investimento, não foi assim que compreendemos o recado de Jesus a todos nós. Tivemos muita dificuldade.

 

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Certa vez pensando nisso, lembrei de uma pergunta de O Livro dos Espíritos, que me chamou muito atenção. Quando escalado para fazer um estudo no curso sistematizado das obras de Kardec, mais especificamente, no curso de O Livro dos Espíritos me deparei com a pergunta 627:

“Visto que Jesus ensinou as verdadeiras leis de Deus, qual é a utilidade do ensino dado pelos espíritos? Têm eles alguma coisa a mais a nos ensinar”?

Fiquei muito espantado pela resposta, porque nunca tinha sido despertado para essa questão, a que fala sobre a utilidade da Doutrina Espírita, visto que Jesus já tinha feito a sua maravilhosa parte. Sendo ele esse Espírito de enormes conquistas, sendo mesmo colocado na categoria de “perfeição moral e modelo mais perfeito que podemos imaginar” (O Livro dos Espíritos, q. 625), como seria possível supor que não tinha conseguido dizer tudo?

Então os espíritos disseram que Jesus precisou falar através das parábolas, porque, na época, nosso desenvolvimento moral era insuficiente para compreendermos tudo nos seus mínimos detalhes, pelo muito pouco que foi possível perceber o resultado não foi o dos mais favoráveis. Por isso, os espíritos lembraram:

“A linguagem de Jesus era, frequentemente, alegórica e em parábolas, porque falava de acordo com os tempos e os lugares. Agora, é preciso que a verdade seja inteligível para todo mundo. É preciso explicar bem e desenvolver estas leis, porque há muito poucos que as compreendem e menos ainda que as praticam. Nossa missão é impactar os olhos e os ouvidos para confundir os orgulhosos e desmascarar os hipócritas: aqueles que simulam a virtude e a religião só nas aparências, para esconder suas torpezas. O ensino dos espíritos deve ser claro e sem equívocos, a fim de que ninguém possa pretextar ignorância e cada um possa julgá-lo e apreciá-lo com a sua razão. Estamos encarregados de preparar o reino do bem anunciado por Jesus; por isso é necessário evitar que cada qual possa interpretar a Lei de Deus ao sabor de suas paixões e falsear o sentido de uma lei toda de amor e de caridade”.

Meus irmãos, notamos a nossa tarefa? Os espíritos disseram: “Estamos encarregados de preparar o reino do bem anunciado por Jesus”. Quem, afinal de contas está encarregado de preparar esse reino? A quem muito foi dado e muito será cobrado? A nós que nos dizemos espíritas? Sim… a nós mesmos, os espíritas!
Temos uma proposta de trabalho extremamente importante, solicitada pelo Cristo. Já paramos para pensar no que isso significa? Significa que fugir ou remediar não faz mais parte da intenção de todo aquele que “ensina” a Doutrina Espírita, não devemos mais usar de figuras de linguagem, devemos ser claros e objetivos, trazer informação que toque nossos sentimentos e nos faça mudar. Não porque tememos um futuro de dores, mas porque sabemos que só há um caminho, o caminho da Justiça, do Amor e da Caridade que é construído pelo bem executado e não pelo bem falado.

Pode haver prantos e ranger de dentes, mas o objetivo, o destino não podem ser tisnados com as nuvens de preconceito e de discórdia. Interpretar a Lei ao sabor de nossas paixões para o espírita não pode mais ser a proposta, não porque somos transformados, mas porque almejamos essa transformação. Não nos iludamos, os “novos fariseus” não podem ser os que ainda não levantaram a bandeira do Cristianismo, mas sim aqueles que se disseram, um dia, ser espíritas, que não correm da transformação ainda que seja pelo caminho do sacrifício, mas que almejam a vida pela modéstia, pela seriedade e pelo devotamento.

Sejamos humildes, bravos “São Bernardos”, tomemos a “charrua” na direção de Deus, sejamos corajosos, pois temos uma tarefa: a de levar o ensinamento para cumprimento da Lei de Deus. “Impactar os olhos e os ouvidos, para confundir os orgulhosos e desmascarar os hipócritas” não é tarefa das mais fáceis, mas é o que a nós foi confiado. Sabe por quê? Porque queremos ser felizes.

 

Missão dos espíritas

Não escutais já o ruído da tempestade que há de arrebatar o velho mundo e abismar no nada o conjunto das iniquidades terrenas? Ah! bendizei o Senhor, vós que haveis posto a vossa fé na sua soberana justiça e que, novos apóstolos da crença revelada pelas proféticas vozes superiores, ides pregar o novo dogma da reencarnação e da elevação dos Espíritos, conforme tenham cumprido, bem ou mal, suas missões e suportado suas provas terrestres.

 

Ides pregar o novo dogma da reencarnação e da elevação dos Espíritos, conforme tenham cumprido, bem ou mal, suas missões e suportado suas provas terrestres.

 

Não mais vos assusteis! As línguas de fogo estão sobre as vossas cabeças. Ó verdadeiros adeptos do Espiritismo!… sois os escolhidos de Deus! Ide e pregai a palavra divina. É chegada a hora em que deveis sacrificar à sua propagação os vossos hábitos, os vossos trabalhos, as vossas ocupações fúteis. Ide e pregai. Convosco estão os Espíritos elevados. Certamente falareis a criaturas que não quererão escutar a voz de Deus, porque essa voz as exorta incessantemente à abnegação. Pregareis o desinteresse aos avaros, a abstinência aos dissolutos, a mansidão aos tiranos domésticos, como aos déspotas! Palavras perdidas, eu o sei; mas não importa. Faz-se mister regueis com os vossos suores o terreno onde tendes de semear, porquanto ele não frutificará e não produzirá senão sob os reiterados golpes da enxada e da charrua evangélicas. Ide e pregai!

Ó todos vós, homens de boa-fé, conscientes da vossa inferioridade em face dos mundos disseminados pelo Infinito!… lançai-vos em cruzada contra a injustiça e a iniquidade. Ide e proscrevei esse culto do bezerro de ouro, que cada dia mais se alastra. Ide, Deus vos guia! Homens simples e ignorantes, vossas línguas se soltarão e falareis como nenhum orador fala. Ide e pregai, que as populações atentas recolherão ditosas as vossas palavras de consolação, de fraternidade, de esperança e de paz.

Que importam as emboscadas que vos armem pelo caminho! Somente lobos caem em armadilhas para lobos, porquanto o pastor saberá defender suas ovelhas das fogueiras imoladoras.

Ide, homens, que, grandes diante de Deus, mais ditosos do que Tomé, credes sem fazerdes questão de ver e aceitais os fatos da  mediunidade, mesmo quando não tenhais conseguido obtê-los por vós mesmos; ide, o Espírito de Deus vos conduz.

Marcha, pois, avante, falange imponente pela tua fé! Diante de ti os grandes batalhões dos incrédulos se dissiparão, como a bruma da manhã aos primeiros raios do sol nascente.

 

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“A fé é a virtude que desloca montanhas”, disse Jesus. Todavia, mais pesados do que as maiores montanhas, jazem depositados nos corações dos homens a impureza e todos os vícios que derivam da impureza. Parti, então, cheios de coragem, para removerdes essa montanha de iniquidades que as futuras gerações só deverão conhecer como lenda, do mesmo modo que vós, que só muito imperfeitamente conheceis os tempos que antecederam a civilização pagã.

Sim, em todos os pontos do globo vão produzir-se as subversões morais e filosóficas; aproxima-se a hora em que a luz divina se espargirá sobre os dois mundos.

Ide, pois, e levai a palavra divina: aos grandes que a desprezarão, aos eruditos que exigirão provas, aos pequenos e simples que a aceitarão; porque, principalmente entre os mártires do trabalho, desta provação terrena, encontrareis fervor e fé. Ide; estes receberão, com hinos de gratidão e louvores a Deus, a santa consolação que lhes levareis, e baixarão a fronte, rendendo-lhe graças pelas aflições que a Terra lhes destina.

Arme-se a vossa falange de decisão e coragem! Mãos à obra! o arado está pronto; a terra espera; arai!

Ide e agradecei a Deus a gloriosa tarefa que Ele vos confiou; mas atenção! entre os chamados para o Espiritismo muitos se transviaram; reparai, pois, vosso caminho e segui a verdade.

Pergunta. – Se, entre os chamados para o Espiritismo, muitos se transviaram, quais os sinais pelos quais reconheceremos os que se acham no bom caminho?

Resposta. – Reconhecê-los-eis pelos princípios da verdadeira caridade que eles ensinarão e praticarão. Reconhecê-los-eis pelo número de Capítulo XX 266 aflitos a que levem consolo; reconhecê-los-eis pelo seu amor ao próximo, pela sua abnegação, pelo seu desinteresse pessoal; reconhecê-los-eis, finalmente, pelo triunfo de seus princípios, porque Deus quer o triunfo de sua lei; os que seguem sua lei, esses são os escolhidos e Ele lhes dará a vitória; mas Ele destruirá aqueles que falseiam o espírito dessa lei e fazem dela degrau para contentar sua vaidade e sua ambição.

(Erasto, anjo da guarda do médium. Paris, 1863. (Missão dos espíritas, Item 4, Capítulo XX – Os trabalhadores da última hora, O Evangelho Segundo o Espíritismo.)).

 

 

Texto de Marcelo Alves, retirado da Revista de Estudos Espíritas do CELD (Centro Espírita Léon Denis) Edição de Setembro de 2012.

 

 

 

 

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