Do que verdadeiramente necessito?

A posse do necessário

Um repórter, buscando retratar a infelicidade, entrevistou uma senhora que perdera toda a sua casa num desabamento: “— Como está se sentindo tendo perdido tudo”? A senhora respondeu com pesar: “— Ah!, meu filho, eu só lamento não poder lhe servir uma xícara de chá”.

Diante de uma perda material ou de um ente querido, é comum encontrarmos uns que se desesperam e outros que dão testemunhos de resignação. Entendendo que a felicidade na Terra depende de cada um, Kardec propõe a seguinte questão aos espíritos: “Há, entretanto, uma medida de felicidade comum a todos os homens”?, o que os Benfeitores Espirituais responderam:

“Com relação à vida material, é a posse do necessário; com relação à vida moral, a consciência tranquila e a fé no futuro.”  

Entendemos que a questão moral é pessoal, mas como a posse do necessário pode ser comum a todos, se para uns o que é necessário é supérfluo para outros? Talvez a explicação esteja no fato de que alguns de nós não observamos que, às vezes, levamos uma vida sem reflexão, priorizando necessidades irreais, as quais justificam o nosso estado infeliz. Nesse momento, somos obrigados a ponderar a afirmativa dos espíritos que complementa a anterior: “O homem só é verdadeiramente infeliz quando sofre da falta do que é necessário à vida e à saúde do corpo.” 

Como é possível saber o que é necessário?

Passar por experiências fortes para valorizar a vida e a saúde do corpo é uma boa opção! Mas, existem outras menos traumáticas, como por exemplo, estabelecer uma gradação de importância na vida material.

Eu necessito, Eu preciso e Eu desejo (Na imagem acima)

Tomemos “a casa” como exemplo: A casa — você necessita, precisa ou deseja? Agora, se conseguir, atenha-se às figuras acima, feche a revista por um instante e reflita sobre isso! Pense na importância da casa para você. Abra quando estiver pronto, nós aguardamos!

Todos agora! Quem deu uma paradinha e aproveitou a reflexão e quem foi vencido pela curiosidade, pensem nisso: você está sozinho(a) numa rua em pleno temporal, a água subindo e relâmpagos e trovões muito fortes! O que você mais pode desejar nesse momento? Para quem já passou por risco de vida, a resposta é clara: um abrigo para se proteger.

Pois bem!, necessitamos de um abrigo para assegurar a vida do corpo, mesmo que seja embaixo de uma ponte! Satisfeita essa necessidade fundamental, precisamos que esse abrigo tenha um mínimo de higiene para mantermos a saúde do corpo, não é mesmo?! Finalmente, se temos um abrigo seguro, bem confortável e com boas condições à saúde, desejamos que ele seja nosso, é claro!

Ah! Quantos de nós sofremos pela falta de um necessário imaginário, quando na verdade estamos bem providos dos recursos terrenos e espirituais para a nossa própria felicidade?

Será que já temos o necessário?

Observem que quando estabelecemos uma gradação de importância desde as coisas mais simples, como comer ou não um doce, até as mais complexas, como o apego à casa e às pessoas, passamos a entender melhor que a vida do corpo é o bem mais precioso da Terra, pois sem ele, permaneceríamos na inferioridade, estacionados no plano espiritual. Com o corpo, somos obrigados à vida de relação — fazer contato conosco através do reflexo no outro — “o meio mais poderoso de aperfeiçoamento”. Então, uma vez mergulhados nas lutas e desafios da vida material, buscamos vencer nossas próprias imperfeições.

Veja também:

Quanto à saúde do corpo, é claro que usar uma ferramenta perfeita, é o que todos desejamos! Mas e quando o aprendizado está nas limitações e dificuldades que o corpo apresenta? Isso os espíritos já responderam: “quanto maior a dificuldade, maior será o mérito”.6 Então, por que isso não é tão simples de aceitar?

Será que, às vezes, não somos daqueles que não param por alguns instantes para refletir, alegando não querer perder tempo, e acabamos perdendo uma boa oportunidade de descobrir o verdadeiro sentido da vida? Será que não estamos priorizando nesta vida o ter e estar, nos esquecendo de que estamos aqui para ser e sentir?!

O Livro dos Espíritos é um precioso convite à reflexão profunda sobre os valores que nos norteiam. No entanto, desatentos que somos, ficamos à mercê das ondas dos interesses do mundo, nos esquecendo de que somos os artífices de nossos próprios destinos, sob a supervisão irradiante dos Benfeitores Espirituais que nos acolhem, representando o Pai em nossas vidas. E, sendo almas livres, precisamos começar a pensar nas verdadeiras prioridades que, de pouco a pouco, nos habilita, como espíritos, ao indispensável questionamento: Do que verdadeiramente necessito?

Notas:

1– O Livro dos Espíritos: questão 922.
2– O Livro dos Espíritos: questões 926 e nota, 716, 633 e 635 nota.
3– O Livro dos Espíritos: questão 927.
4– O Livro dos Espíritos: questão 895.
5– O Evangelho Segundo o Espiritismo, capítulo XVII — 10.
6– O Livro dos Espíritos: questões 646, 866 e 266.

 

Texto de Luis Fernando Marcos, retirado da Revista de Estudos Espíritas do CELD (Centro Espírita Léon Denis) Edição de Julho de 2012.

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